Um dia antes do início do último Campeonato Mundial de judô, um homem com cara de poucos amigos esbravejava. “É essa a imagem que vocês querem passar? Quando não respeitam as regras, a imagem que todos nós passamos é de desleixo, de falta de profissionalismo. Isso não será mais permitido”. O discurso tinha tom de bronca de pai para filho. Feito pelo romeno Marius Vizer, presidente da Federação Internacional de Judô, teve origem em um fato pouco importante: os técnicos no evento estavam de agasalho, não de terno.
A reclamação irada mostra a maneira que o romeno adota, desde 2007, para comandar o judô mundial. O jeito bruto, mandão, é o mesmo com que encara a vida. Vizer é um verdadeiro homem de gelo. Sempre com a cara fechada, raramente dá risadas – pelo menos em público. A história pessoal é obscura e polêmicas envolvem seu nome no país natal.
Fazê-lo falar da vida, e não da FIJ, é tarefa das mais difíceis. Há 10 dias, em São Paulo para o lançamento da etapa paulista da Copa do Mundo, a reportagem do UOL Esporte teve 20 minutos com o mandatário. Tentou algumas vezes. “A gente pode tentar fazer por e-mail”, foi a primeira resposta. “Não, nada sobre vida pessoal”, foi a segunda negativa. “Desculpe, mas não respondo sobre isso”, foi a terceira.
Ao final da entrevista, outro não: “Não sou político para ter a vida aberta”. Pediu mais uma vez para que o e-mail fosse enviado. As respostas chegaram mais de uma semana depois e estão no quadro ao lado.
Tanta cautela tem origem na controversa história do dirigente. Vizer deixou a Romênia em 1988. Sua família fugiu do regime do ditador Nicolau Ceausescu e mudou para a Áustria. Morou em Viena até o fim do regime comunista, quando voltou para o Leste Europeu. O destino foi Budapeste, na Hungria.
No novo país, os negócios floresceram, e muito. Rapidamente, se tornou um dos homens mais ricos da Europa. Virou amante de charutos. Anda sempre com um gigante romeno, com cara de segurança. Vlad Marinescu é seu assessor particular.
De volta a Vizer, o empresário de sucesso acabou se envolvendo com o futebol. Torcedor do Real Madrid, era ligado ao clube durante a gestão de Vicente Calderon. Ele, inclusive, tem uma parceria com o clube merengue, em escolinhas de futebol. Hoje, lista uma série de clubes com que "colabora", como West Ham, Juventus, Nantes.
Em seu país, é um dos sócios do Dínamo de Bucareste. No ano passado, trouxe, por exemplo, o italiano Dario Bonetti para comandar o time – o técnico deixou o cargo no ano passado, para que o romeno Cornel Talnar assumisse.
A lista de amigos famosos é longa. O ex-jogador de futebol George Hagi é um deles. Assim como o ex-presidente russo, Wladimir Putin, que, nas palavras de Vizer em uma entrevista de 2006, “poderia ter sido campeão mundial”. Outro famoso é Lothar Matthaus, que, recentemente, foi nomeado membro honorário da FIJ. A mulher, Irina Nicolae, é atriz e foi cantora, do grupo A.S.I.A., que fez sucesso na Romênia.
A reserva que apresenta com a vida pessoal não se repete quando fala da FIJ. Vizer fala com desenvoltura, em um inglês rápido, mas com forte sotaque do Leste Europeu, sobre seu plano para aumentar a visibilidade do esporte. O som do discurso é entusiasmado. Mas o rosto não demonstra nenhum tipo de animação. O olhar é frio, sem demonstrar nenhum tipo de emoção.
Ele comanda o judô mundial desde 2007 – foi eleito no Rio de Janeiro, pouco antes do Mundial. Nesse período, mudou regras, calendário, rankings, estratégia de marketing da modalidade. Tudo para vender esse lado “profissional” do judô.
“Desde que assumi, me comprometi a fazer três grandes mudanças. No calendário, com os Mundiais e os Grand Slams e as Copas do Mundo. No marketing, para que o judô virasse um produto atraente. E nas regras, para que o judô voltasse a ser um esporte bonito. Em 2013, vamos mostrar ao mundo a nova imagem do judô”, afirma o romeno.